domingo, 23 de outubro de 2011

Por uma Ação Política Cristã

A orientação geral de algumas das propostas e linhas de reflexão de teólogos e pensadores políticos da Missão Integral.


   No que tange à responsabilidade social e política da igreja, a mais evidente e importante bandeira do movimento da missão integral, herdada pelo MEP, é a do progressismo e da luta pela justiça social. Os dois conceitos estão intimamente relacionados. Na Consulta sobre Evangelismo e Responsabilidade Social, realizada em Grand Rapids, em junho de 1982, em seguimento ao Congresso de Lausanne, a luta pela justiça social foi apontada como um dos aspectos da missão da igreja:

   O outro tipo de responsabilidade é a busca de justiça social, que trata não somente de pessoas mas de estruturas; não só da reabilitação dos presos, mas da reforma do sistema penitenciário; não apenas da melhoria das condições de trabalho, mas da transformação do sistema econômico (qualquer seja ele) e do sistema político, facilitando a libertação da pobreza e da opressão.

   O compromisso não é com uma ideologia ou utopia específica, mas com um posicionamento não-conservador e uma orientação para a justiça social. Sabemos que, em grande medida, os posicionamentos progressistas do Congresso de Lausanne e das consultas subsequentes se devem à militância de teólogos cristãos latino-americanos como René Padilla e Samuel Escobar, com o apoio de John Stott. O próprio Padilla aponta a justiça social como " a norma de Deus para o exercício do poder político".

   Perspectivas semelhantes foram apresentadas nos CLADEs (Congresso Latino-Americano de Evangelização) e encontraram eco entre os cristãos progressistas brasileiros. Assim o MEP se denomina progressista "porque é comprometido com mudanças sociais. O MEP trabalha pela justiça em defesa dos mais carentes, pela integridade cristã e pelo rigor ético" . Ser progressista significaria ter um compromisso com a transformação permanente da ordem social e política, na busca da justiça social.

   Uma ilustração disso é o verso-divisa do MEP, que aparece em seus documentos e apresentações: "até que corra a justiça como um rio que não seca" (Am 5.24). A busca de justiça social é expressa concretamente na defesa de propostas políticas "que tenham a séria intenção de redistribuir recursos e, o que é mais importante, ainda à luz da Lei de Moisés, democratizar o controle da economia", colocando não só as riquezas econômicas , mas também as culturais, a serviço da população.


   No Brasil, o compromisso da missão integral com o progressismo e a justiça social materializou-se numa clara opção pela esquerda socialista, entendida como oposição ao conservadorismo e luta pela transformação de estruturas injustas da sociedade. As raízes dessa opção política se encontram na própria formação do movimento de missão integral que, na busca por uma aplicação do "evangelho todo para o homem todo", apontou o condicionamento ideológico de toda reflexão teológica e defendeu a construção de uma teologia contextualizada, atenta à situação social, econômica e política da América Latina.

   Essa situação foi interpretada como uma situação de opressão e dependência econômica em relação aos Estados Unidos e à Europa, associada a uma colonização ideológica expressa, inclusive, no domínio das opções políticas, da teologia, das formas de culto e da linguagem das igrejas evangélicas norte-americanas sobre as brasileiras. Falar de um evangélho integral, nessas condições, significaria, necessariamente, buscar uma transformação das estruturas sociais e políticas país. A única resposta possível a esse estado, seria a produção de uma teológia crítica, associada a uma militância política comprometida com o rompimento da dependência e a transformação das estruturas internas de injustiça e concentração de renda.

   Tais preocupações inclinaram o movimeno ao Socilismo. Mas a um Socialismo "renovado", para usar a linguagem de Robinson Cavalcanti, humanístico e democrático, com inequívoca rejeição do autoritarismo : " sou politicamente um liberal, pois defendo a democracia e não a ditadura; e não sou um liberal em economia, pois não advogo o capitalismo, mas sim o Socialismo". Tal Socialismo encarnaria uma nova "utopia" para orientar a luta dos cristãos políticos: Co-beligerantes com parceiros seculares, devemos renovar nossa disposição de luta por uma ordem mundial capaz de garantir efetivamente o direito à igualdade entre os países, à sua autodeterminação e à sua integração mundial não-subalterna. Utopia que é civilização: liberdade, pluralismo, organização, justiça social, amplos mecanismos de representação e participação, transparência e responsabilidade dos órgãos de governo, lazer, qualidade de vida, defesa da natureza, fim da discriminação, igualdade de oportunidades, pluralidade de formas não-monopolísticas e não-oligopolísticas da vida econômica, promoção da cidadania.

   O Socialismo, para ser humanístico e democrático, terá que ser uma sociedade na qual governem e se realizem os seres humanos reais - com suas paixões, seus desejos, suas grandezas e seus defeitos - e não um mítico ser humano perfeito que não é outra coisa senão uma negação do ser humano.

   Os temas de justiça social, redistribuição da riqueza, necessidade de aplicação do evangelho todo ao homem todo, incluindo o homem como ser político, e a crítica ao condicionamento ideológico da pregação cristã norte-americana foram apropriados num projeto que, sem assumir plenamente o marxismo, pretende associar a antropologia e a ética social bíblica a um projeto progressista de transformação social. Esse projeto encontrou no socialismo, a proposta mais coerente com a ética bíblica.



Com base no livro: Cosmovisão Cristã e Transformação








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