terça-feira, 8 de novembro de 2011

Indiferença

"Muitas vezes, nas ruas mais agitadas deste mundo,
Muitas vezes, em meio à confusão da luta,
Surge um desejo inexprimível
De conhecer nossa vida encoberta:
Uma ânsia de consumir nossa chama e força impetuosa
Para encontrar a pista do nosso curso original;
Um desejo de investigar
Os mistérios deste coração que bate
Tão louco, tão profundo dentro de nós - para conhecer
De onde nossas vidas vêm e para onde elas vão."

Matthew Arnold, The Buried Life [ A vida Encoberta ]

Certo homem disse ao universo:

"Senhor, eu existo."
"Entretanto", replicou o universo, " o fato não criou em mim um senso de obrigação ."

Quão diferentes são as palavras do antigo salmista, que olhou para si mesmo e para Deus e expressou:

   Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome! Pois expuseste   nos céus a tua majestade.
   Da boca de pequeninos e crianças de peito suscitaste força, por causa dos teus adversários, para fazeres emudecer o inimigo e o vingador.
   Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, e a lua e as estrelas que estabeleceste,
   que é o homem, que dele te lembres E o filho do homem, que o visites?
   Fizeste-o, no entanto, por um pouco, menor do que Deus e de glória e de honra o coroaste.
   Deste-lhe domínio sobre as obras da tua mão e sob seus pés tudo lhe puseste:
   ovelhas e bois, todos, e também os animais do campo;
   as aves do céu, e os peixes do mar, e tudo o que percorre as sendas dos mares.
  Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome!
 
(Salmos 08)
 

Há toda diferença do mundo entre as cosmovisões presentes nesses dois poemas. De fato, eles propõem universos alternativos. Não obstante, ambos os poemas reverberam na mente e alma das pessoas hoje em dia. O salmista afirma sobre a mão de Deus no cosmo e seu amor pelas pessoas. Elas anseiam por algo que não podem mais verdadeiramente aceitar. O vazio deixado pela perda do centro da vida é como o abismo no coração de uma criança que perdeu seu pai. Como aqueles que não creem mais em Deus desejam preencher esse vazio!

E muitos que, apesar de estarem do lado do salmista e cuja fé no Senhor Deus é vital e plena, ainda sentem a luta do poema de Crame. Sim, é exatamente isso o que significa perder a Deus. Sim, é isso o que aqueles que não têm fé no Senhor pessoal e infinito, Criador do universo devem sentir, qual seja, alienação, solidão e mesmo desespero.

O Universo ao Lado / James W. Sire

domingo, 23 de outubro de 2011

Um papo com Lutero

De todos os homens que passaram por esse mundo, um que eu realmente queria ter conhecido era Lutero – aquele cara que ajudou a fazer a Reforma. Gostaria de deixar bem claro que é reforma protestante, Lutero não era um mestre de obras, pedreiro ou coisa assim… Se bem que ele balançou as estruturas no seu tempo.

Gosto do jeitão dele meio fanfarrão, capaz de pegar musica de cabaré e tocar na igreja sem o menor constrangimento. Esse cara era rock! Não eu estou dizendo que Lutero era igual o Roque (ajudante de palco) do Silvio Santos, na verdade estou afirmando que ele tinha atitude. Coisa rara hoje em dia.

Gosto tanto desse cara que outro dia acabei cochilando e tendo o seguinte sonho:
(A cena se passa na sala da minha casa. Eu estou vendo TV e imerso no seguinte problema: “Pra que alguém compra um horário na TV se não tem conteúdo pra passar?”)
Lutero: E ai meu jovem! O que tem de bom nessa telinha?
Eu: Nada. Estou aqui assistindo o programa desse apóstolo e até agora só aprendi o número da conta da igreja dele.
Lutero: E qual texto da Bíblia ele comentou?
Eu: Texto da bíblia? Acho que se ele tem um exemplar da Sagrada Escritura deve ter guardado tão bem que nem sabe onde guardou, ou é daqueles que não usa bíblia porque têm a Palavra guardada no coração, essas desculpas que o povo arruma.
Lutero: Mas conta alguma coisa que ele disse pelo menos…
Eu: Passou uns quinze minutos pedindo oferta pra manter o programa no ar, dizendo que é muito caro o custo e tal. Disse que se a gente ajudar e for mantenedor, Deus se alegrará e a gente terá uma vaga no céu e as bênçãos celestiais cairão sobre nós.
Lutero: Ué! Pensei que a venda de indulgências tivesse acabado…
Eu: Que nada! Tá na moda. Acho até que o povo gosta de pagar por uma quitinete no céu! Na verdade paga o valor de uma mansão no fim eles entregam uma quitinete toda cheia de buraco e rachadura em qualquer lugar por aqui mesmo. Quando entregam…
Lutero: Desse jeito vou ter que começar outra reforma…
Eu: Era uma boa mesmo sabia? Porque o deus que eles apresentam não parece nada com o nosso.
Lutero: Como assim?
Eu: O deus deles faz tudo o que eles querem, nunca diz não! É tipo gênio da lâmpada, basta fazer o pedido e esperar, que tudo é entregue no máximo em quinze dias na própria residência com frete incluído!
Lutero: Ah, então eu já sei quem é o deus deles!

Eu: Quem?
Lutero: Papai Noel!
Eu: He! He! He! He! Só você mesmo Luterão!
(eu desperto do sono e ouço uma música de fundo cantarolando assim… “Estou seguindo a Jesus Cristo…”)

Carta do filme: Cartas para Julieta

"E" e "Se" são duas palavras tão inofensivas quanto qualquer palavra, mas coloque-as juntas lado a lado, e elas tem o poder de assombra-lá pelo resto da sua vida. "E se".. E se? E se?

Não sei como sua história acabou. Mas sei o que você sentia na época era amor verdadeiro então nunca é tarde demais. Se era verdadeiro então, porque não o seria agora? Voce só precisa ter coragem para seguir seu coração. Não sei como é sentir amor como o de Julieta, um amor pelo qual abandonar entes queridos, um amor pelo qual cruzar oceanos. Mas gosto de pensar que, se um dia sentisse, eu teria coragem de agarra-lo. E Claire se voce não o fez, espero que um dia faça.

Com todo meu amor.

Julieta

Vida de MALINOWSKI / Difusionismo e Funcionalismo

VIDA

         Doutorando-se em física e química lê o “ramo de ouro” de Frazer. Depois vai estudar psicologia experimental e história econômica com Bücher. Wundt que fora mestre de  Durkheim e de Boas, e estava interessado em Antropologia, também torna-se mestre de Malinowski. A Volkerpsychologie  (escola de Wundt) dizia respeito à cultura, “aqueles produtos mentais que são criados por uma comunidade de vida humana e que, são inexplicáveis em termos de mera consciência individual, uma vez que pressupõe a ação recíproca de muitos”, uma concepção que estava relacionada com a noção de “consciência coletiva” de Durkheim.

         Wundt era contrário a que se descrevesse o desenvolvimento de um fenômeno cultural em isolamento, quer se tratasse de linguagem, mito ou religião, pois as “várias expressões mentais, sobretudo em seus estágios iniciais, estão de tal modo interligadas que dificilmente são separáveis umas das outras.  Malinowski, passou dois anos em Leipzig. Em 1910 – troca leipzig pela london School of Economics.

         Na London school of Economics ele trabalhou sob a orientação de Westermarck, Wundt e seus discípulos estavam interessadíssimos no material australiano – como muitos outros cientistas sociais desse tempo. Em 1912 e 1913, eram publicados importantes trabalhos sobre os aborígenes australianos, não só de Malinowski e Radcliffe-Brown, mas também de autoria de Durkheim e Freud. Na London S. of E.conomics, Malinowski encontrou-se com o desejo britânico de proporcionar apoio a mais trabalhos etnográficos.

             
          O Governo australiano deu uma verba para que ele pudesse realizar suas investigações.Duas bolsas-  Londres e L.E.E. Quando estava com 30 anos, pesquisa no sul da Nova Guiné. Em maio de 1915 – por acidente, fixou-se nas Ilhas Trobriand, ao largo da Nova Guiné. (...) ele inventou os métodos da moderna pesquisa de campo nos dois anos que passou nas Ilhas Trobriand, nos períodos de 1915-1916 e 1917-1918.

          Mlinowski escreveu sobre seus métodos de pesquisa de campo, mas a publicação póstuma de alguns de seus diários de campo forneceu uma idéia muito mais íntima de suas experiências nas Ilhas Trobriand do que as suas próprias dissertações sobre o método. Contudo, embora os diários revelem as tensões pessoais do trabalho de campo, também tornam a sua realização simultaneamente mais compreensível e mais admirável. Como disse Malinowski aos seus estudantes, considerou o diário pessoal do pesquisador de campo uma válvula de escape, um meio de canalizar as preocupações e emoções pessoais do etnógrafo para longe dos apontamentos estritamente científicos.

   
      TÉCNICA

1)   Havia a descrição geral de instituições, de costumes, que ele estudou mediante o que denominou “o método de documentação estatística por provas concretas”.  Compor cartas sinópticas, nas quais se registrava a gama de costumes associados a determinadas atividades. O pesquisador de campo deve também observar as realidades da ação social, aquilo a que Malinowski chamou os imponderáveis da vida cotidiana, registrando minuciosamente as suas observações num diário etnográfico especial.
           
         E finalmente, a compreensão da regra e da ação deve ser posta no contexto do modo característico de pensar da cultura, pois a meta final “que cumpre ao etnógrafo nunca perder de vista” é “apreender o ponto de vista do nativo, sua relação com a vida e perceber a visão que ele tem do seu mundo”.

          (...) Para além da preocupação de Malinowski com os métodos de campo havia, portanto, uma compreensão da complexidade da realidade social que quase correspondia a uma teoria.

           
          Casou-se com a filha de um professor australiano.   Em 1920 a 1922 – deu aulas na London School of Economics. 1927 – Malinowski – nomeado para a primeira cátedra de Antropologia da Universidade de Londres. Permaneceu até 1938, quando foi aos EUA. Morreu em New Haven, em 1942, aos 58 anos.       Teve 7 monografias publicadas entre 1922 e 1955.

           Malinowski tinha muitas das qualidades de um profeta, era um líder “carismático”,. Malinowski não tinha dúvidas acerca de sua própria grandeza; considerava-se um missionário, um inovador revolucionário no campo da metodologia e das idéias antropológicas. Proclamava-se o criador de uma disciplina acadêmica inteiramente nova.

          Nas primeiras páginas dos Argonautas escreveu: “A posição do etnógrafo moderno está em completo contraste com aquela famosa resposta dada há muito tempo por uma autoridade representativa que, indagada sobre quais eram as maneiras  e os costumes dos nativos, respondeu: “costumes, nenhum; maneiras, detestáveis”.

           A abordagem de Malinowski era relativista. Isso significa suspensão dos juízos etnocêntricos sobre as culturas de outros povos.

            Monografias:

            Cada uma das monografias de Malinowski sobre  Trobriand ocupa-se primordialmente de um único foco institucional: comércio, família, vida e procriação, mito, o respeito às normas, cultivo da terra.

            São três os temas centrais em todas as suas monografias. Em primeiro lugar, os aspectos da cultura não podem ser estudados isoladamente; devem ser entendidos no contexto de seu uso.

            Em segundo lugar, nunca podemos confiar nas regras ou na descrição de um informante a respeito da realidade social; as pessoas dizem sempre uma coisa e fazem outra.

            A noção de que as culturas constituíam um todo integrado, que não deveriam ser decompostos para fins de estudo comparativo, não era em si mesma um ponto de vista particularmente original, dado o seu íntimo parentesco com todas as anteriores concepções orgânicas de cultura e sociedade.

            A tese de Malinowski era que as culturas formam todos porque são unidades funcionais. Todo e qualquer costume existe para preencher um determinado propósito e , por conseguinte, todos os costumes possuem um significado vivo e corrente para os membros de uma sociedade. Eles são, em resumo, os meios que os homens usam para satisfazer suas necessidades e devem, portanto, permanecer unidos.

            Esse senso de cultura como um todo que abrangia um jogo de ferramentas levou-o a formular os seus outros axiomas.

            Resumindo a perspectiva de Malinowski dependia (como todas as teorias sociológicas) de uma concepção de homem – representado em sua obra pelo arquétipo, homem trobriandês – e, no ponto de vista de Malinowski, o homem era realista, prático, razoável, um tanto falho de imaginação, talvez, mas capaz de discernir seus verdadeiros interesses a longo prazo.


DIFUSIONISMO e FUNCIONALISMO.

         Análise sincrônica passou a denominar-se funcionalista. O enfoque funcionalista não era visto como algo que desalojaria as preocupações evolucionistas e difusionistas mas, outrossim, como algo que deveria ser-lhes adicionado.
O  difusionismo recebeu um grande impulso na Grã-Bretanha.
      A  Teoria difusionista tende no início do século, a ocupar o lugar do evolucionismo, e postula a existência de empréstimos.
 Malinowski considera que uma sociedade deve ser estudada enquanto uma totalidade, tal como funciona no momento mesmo onde a observamos. Frazer foi o mestre de Malinowski. Quando perguntávamos ao primeiro por que ele próprio não ia observar as sociedades a partir das quais tinha construído sua obra respondia: “Deus me livre!”  Os argonautas do pacífico Ocidental, embora tenha sido editado alguns anos apenas após o fim da publicação de O ramo de ouro, com um prefácio, do próprio frazer, adota uma abordagem rigorosamente inversa: analisar de uma forma intensiva e contínua uma microssociedade sem referir-se a sua história. Enquanto Frazer procurava responder à pergunta: “como nossa sociedade chegou a se tornar o que é? ; e respondia escrevendo essa “obra épica da humanidade” que é O Ramo de Ouro, Malinowski se pergunta o que é uma sociedade dada em si mesma e o que a torna viável para os que a ela pertencem, observando-a no presente através da interação dos aspectos que a constituem.

          Com Malinowski, a antropologia se torna uma “ciência” da alteridade que vira as costas ao empreendimento evolucionista da reconstituição das origens da civilização, e se dedica ao estudo das lógicas particulares características de cada cultura. O que o leitor aprende ao ler Os argonautas é que os costumes dos Trobriandeses, tão profundamente diferentes dos nossos, têm uma significação e uma coerência. Não são puerilidades que testemunham de alguns vestígios da humanidade, e sim sistemas lógicos perfeitamente elaborados. Hoje, todos os etnólogos estão convencidos de que as sociedades diferentes da nossa são sociedades humanas tanto quanto a nossa, que os homens e mulheres que nelas vivem são adultos que se comportam diferentemente de nós, e não “primitivos”, autômatos atrasados (em todos os sentidos do termo) que pararam uma época distante e vivem presos a tradições estúpidas. Mas nos anos 20 isso era revolucionário.

             Com o objetivo de pensar essa coerência interna, Malinowski elabora uma teoria (o funcionalismo) que tira seu modelo das ciências da natureza: o indivíduo sente um certo número de necessidades, e cada cultura tem precisamente como função a de satisfazer à sua maneira essas necessidades fundamentais. Cada uma realiza isso elaborando instituições (econômicas, políticas, jurídicas, educativas...), fornecendo respostas coletivas organizadas, que constituem, cada uma a seu modo, soluções originais que permitem atender a essas necessidades.

              Outra característica do pensamento de Malinowski foi a preocupação em abrir as fronteiras disciplinares, devendo o homem ser estudado através da tripla articulação do social, do psicológico e do biológico. Convém em primeiro lugar, para Malinowski, localizar a relação estreita do social e do biológico; o que decorre do ponto de vista anterior, já que, para ele, uma sociedade funcionando como um organismo, as relações biológicas devem ser consideradas não apenas como o modelo epistemológico que permite pensar as relações sociais, e sim como o seu próprio fundamento. Além disso, uma verdadeira ciência da sociedade implica, ou melhor, inclui o estudo das motivações psicológicas, dos comportamentos, o estudo dos sonhos e dos desejos do indivíduo. E Malinowski, quanto a esse aspecto vai muito além da análise da afetividade de seus interlocutores. Ele procura reviver nele próprio os sentimentos dos outros, fazendo da observação participante uma participação psicológica do pesquisador, que deve “compreender e compartilhar os sentimentos” destes últimos “interiorizando suas  reaçõnteriorizando suas reaçar os sentimentos"da obs radicalmente, como veremos, de Durkheim), vai muito al, soluçes  emotivas”.

1)      o único modo de conhecimento em profundidade dos outros é a participação a sua existência, ele inventa literalmente e é o primeiro a pôr em prática a observação participante, dando-nos o exemplo do que deve ser o estudo intensivo de uma sociedade que nos é estranha. O fato de efetuar uma estadia de longa duração impregnando-se da mentalidade de seus hóspedes e esforçando-se para pensar em sua própria língua pode parecer banal hoje. Não o era durante os anos 1914-1920 na Inglaterra e muito menos na França. Malinowski nos ensinou a olhar. Deu-nos o exemplo daquilo que devia ser uma pesquisa de campo, que não tem mais nada a ver com a atividade do “investigador” questionando “informadores”.

     Em  síntese: a experiência desses pioneiros mais a reflexão teórica de Durkheim, formou uma nova geração de antropólogos, que transformou profundamente a antropologia – Malinowski é uma das figuras centrais dessa geração.

O Casaco de Marx

   O capital assume a forma de casaco. O casaco não como uma mercadoria que é trocada. E o que define o casaco como uma mercadoria para Marx é que, como tal, ele não pode ser vestido como tampouco pode aquecer. A mercadoria se alimenta de trabalho humano. O caráter contraditório do próprio capitalismo: a sociedade mais abstrata que jamais existiu; uma sociedade que consome, cada vez mais, corpos humanos concretos.
   A mercadoria torna-se uma mercadoria não como uma coisa, mas como um valor de troca.
  • Feitiche: Tudo aquilo a que se atribui poder sobrenatural a feitiço.
  • Feitichismo: Adoração de Feitiches/ Amor, não à pessoa, mas a um objeto de uso dessa pessoa.
   O casaco de Marx aparece apenas para imediatamente desaparecer outra vez, porque a natureza do capitalismo consiste em produzir um casaco não como uma particularidade material, mas como um valor suprasensível.
   Ele tinha usos bem específicos: conservar Marx aquecido no inverno; distingui-lo como um cidadão decente que pudesse entrar no salão de leitura do Museu Britânico. Mas o casaco, qualquer casaco, visto como um valor de troca, é esvaziado de qualquer função útil. 
   Para Marx, o feitichismo não é o problema; o problema é o feitichismo das mercadorias, que é o ato de exploração, que emerge das relações comerciais dos portugueses da África Ocidental nos séculos XVI e XVII.
   Os empreendedores europeus, ao menos após os primeiros estágios comerciais, não feitichizavam objetos; pelo contrário eles estavam interessados em objetos apenas na medida em que eles pudessem ser transformados em mercadorias e trocados para obtenção de lucro no mercado.
   O verdadeiro valor ( isto é, de mercado) do objeto como mercadoria, se fixava, em vez disso, nos valores transcedentais que transformavam o ouro em navio, os navios em armas, as armas em tabaco, o tabaco em açúcar, o açúcar em ouro, e tudo isso num lucro que podia ser contabilizado. O que era demonizado no conceito de feitiche era a possibilidade de que a história, a memória e o desejo pudessem ser materializados em objetos que fossem tocados e amados e carregados no corpo.
   A situação financeira tinha se tornado tão desesperadora que ela tinha não apenas perdido o crédito com o açougueiro e o verdureiro, mas tinha sido obrigado a penhorar o seu casaco de inverno.
   As roupas que Marx vestia determinavam assim o que ele escrevia. Existe aqui, um nível vulgar de determinação material que é difícil até de considerar, embora as considerações materiais vulgares fossem precisamente aquilo que Marx estava discutindo: um casaco como uma mercadoria, no interior do mercado capitalista.
   Marx tinha uma vida em débitos com os padeiros, verdureiros e açougueiros, ou pela penhora de algumas compras anteriores feitas, como em qualquer lar de classe trabalhadora.
   A vida doméstica de Marx dependia, pois, dos “minúsculos cálculos” que caracterizavam a vida da classe operária.
   As roupas escreveu Engels, eram as marcas visíveis da classe: as roupas dos operários estão numa condição muito ruim.
   O fustão era uma roupa grosseira, feita de sarja levemente flanelada. A sua cor era, em geral, de um oliva ou chumbo ou outra cor escura.
   Por muito pouco heróica que seja a sociedade burguesa, em seus primeiros e revolucionários momentos ela se veste com a roupagem do passado de forma a se imaginar a si própria em termos da grande tragédia histórica.
   Uma análise do funcionamento sistemático do capitalismo, ele próprio dependia, principalmente, de práticas pré-capitalistas ou marginalidade capitalistas: pequenas heranças; doações; a escrita de livros que frequentemente tinham que ser subsidiados.
   O padrão usual do comercio de penhores, como tão bem demonstrou Melanie Tebbutt, consistia em que os salários recebidos na sexta ou no sábado eram usados para recuperar as melhores roupas da loja de penhores.
   Pelos quinze shilings que ele obtinha em troca de seus penhores ele tinha que pagar oito pence por semana ( um juro de cerca de 4,5% à semana, 19% ao mês e 23,5% ao ano). Para os Marx, a penhora de suas roupas delimitava suas possibilidades sociais.
   O dono da loja de penhores não iria pagar por memórias pessoais ou de família
   As memórias estavam, assim, inscritas, para os pobres, em objetos que eram assombrados pela perda. Pois os objetos estavam num estado constante de estarem prestes a desaparecer. O Cálculo das prováveis futuras jornadas das roupas e de outros objetos até a loja de penhores estava inscrito na sua compra .
   De forma violenta, numa experiência de gênero, ao associar a troca de mercadoria com o fato de ser mulher, pois as mulheres são descritas como prestes a se tornarem mercadorias, isto já é previsto no fato de que elas partem com suas lembranças materiais, “sem nenhuma luta”, assim como as penhoras transformadas em mercadorias, “vão sem nenhuma luta”! .
   Em 1884, um único dono de loja de penhores de Suderland recebeu, como penhores, mil e quinhentos anéis de noivado e três mil relógios, um sinal evidente da situação desesperadora causada pela depressão econômica.
   Essa tenção endêmica entre, de um lado, formas de lembrança e auto-constituição e, de outro, formas de troca de mercadorias é tratada, por Dickens, em “A loja de penhores”, apenas em termos de corrupção femenina. (...) “uma mulher jovem, cujas roupas, miseravelmente pobres mas extremamente vistosas, lamentavelmente frias mas extravagantemente elegantes, claramente denunciam  sua classe” e, no outro, uma mulher que é  “a mais baixa das baixas; suja, desabotoada, desalinhada e desleixada”.Dickens desloca para as mulheres a relação entre a particularidade do objeto-como-memória e a generalidade do objeto-como-mercadoria, o primeiro aparecendo como amor verdadeiro, o último como prostituição. (...)  penhoradas – roupas e bens domésticos – e também sobre o fato de que a penhora era frequentemente um palco da preparação de comida.  (pág. 69).
   Embora ele fosse um mágico, Hans nunca conseguia cumprir suas obrigações seja para com o demônio seja para com o açougueiro, e era portanto – muito contra a sua vontade – constantemente obrigado a vender seus brinquedos para o diabo
   O momento da venda é o momento de alienação, o momento em que os brinquedos perdem sua mágica, na medida em que eles são transformados em valores de troca.
   A perda, naturalmente, não era a dele próprio; era a perda de toda a classe operária, alienada dos meios de produção. Aquela alienação significava que eles, os produtores da maior multiplicidade de coisas que o mundo tinha conhecido, estavam para sempre situados no exterior daquela plenitude material, seus rostos espiando através das vitrines da loja os brinquedos que eles tinham feito, mas que eram, agora, “propriedade privada”. A propriedade privada da burguesia era comprada ao preço da desapropriação da classe operária relativamente às coisas deste mundo. Na medida em que eles tinham posses, eles a tinham de forma precária.
   Para Marx, a loja de penhores não podia ser o ponto de partida para uma análise da relação entre o objeto e a mercadoria. Existem, penso, duas razões para isto. A  primeira é que o dono da loja de penhores é, da perspectiva de Marx, um agente do consumo e da recirculação de bens e não da sua produção. A segunda é que, embora na loja de penhores vejamos a transformação particular é uma característica tanto das formações pré-capitalistas quanto das capitalistas. Não existe nada de especificamente novo sobre o valor de troca ou, mesmo sobre donos de lojas de penhores.
   O trabalho humano que foi apropriado na sua fabricação, o trabalho que produziu o tecido das camisas e das saias e das roupas de cama em folhas de papel.
   Em O Capital, Marx escreveu sobre o casaco visto como uma mercadoria – como a forma celular abstrata do capitalismo. Ele traçou o valor daquela forma celular a ser apropriada pelo corpo do trabalho alienado (...). Estar sem dinheiro significava ser forçado a desnudar o corpo. Ter dinheiro significava tornar a vestir o corpo. (pág. 78)
   Qual é a criatura que caminha com quatro pés pela manhã, dois ao meio-dia e três à noite? O Enigma da Esfinge é o ser humano! . A Esfinge nos faz ver a singularidade do caminhar.
   A Esfinge era um monstro com rosto de mulher, pés e cauda de leão, e asas de pássaro. É  a descrição de um ser que está, ao mesmo tempo, mais ou menos preso ao chão do que os humanos: mais, porque anda sobre quatro pés; menos, porque as asas indicam que pode voar.
   O enigma de uma criatura que anda sobre dois pés é, pois, resolvido por um homem que tem dificuldades em andar sobre dois pés.
   O enigma da Esfinge simplifica a dificuldade do caminhar. Quando caminhamos, somos como ciclistas.
   Talvez o caminhar se faça sempre sobre três pés – mais a maioria de nós internalizou tão bem o terceiro pé que não estamos mais conscientes dele.
   O enigma da Esfinge nos faz lembrar que um dos aspectos centrais do ser humano é a possibilidade de caminhar.
   O mistério do caminhar é o mistério de um “animal bifurcado” que consegue ficar em pé (quando consegue) apenas pelo sentido incorporado de equilíbrio que a mão de um outro lhe deu.   

Por uma Ação Política Cristã

A orientação geral de algumas das propostas e linhas de reflexão de teólogos e pensadores políticos da Missão Integral.


   No que tange à responsabilidade social e política da igreja, a mais evidente e importante bandeira do movimento da missão integral, herdada pelo MEP, é a do progressismo e da luta pela justiça social. Os dois conceitos estão intimamente relacionados. Na Consulta sobre Evangelismo e Responsabilidade Social, realizada em Grand Rapids, em junho de 1982, em seguimento ao Congresso de Lausanne, a luta pela justiça social foi apontada como um dos aspectos da missão da igreja:

   O outro tipo de responsabilidade é a busca de justiça social, que trata não somente de pessoas mas de estruturas; não só da reabilitação dos presos, mas da reforma do sistema penitenciário; não apenas da melhoria das condições de trabalho, mas da transformação do sistema econômico (qualquer seja ele) e do sistema político, facilitando a libertação da pobreza e da opressão.

   O compromisso não é com uma ideologia ou utopia específica, mas com um posicionamento não-conservador e uma orientação para a justiça social. Sabemos que, em grande medida, os posicionamentos progressistas do Congresso de Lausanne e das consultas subsequentes se devem à militância de teólogos cristãos latino-americanos como René Padilla e Samuel Escobar, com o apoio de John Stott. O próprio Padilla aponta a justiça social como " a norma de Deus para o exercício do poder político".

   Perspectivas semelhantes foram apresentadas nos CLADEs (Congresso Latino-Americano de Evangelização) e encontraram eco entre os cristãos progressistas brasileiros. Assim o MEP se denomina progressista "porque é comprometido com mudanças sociais. O MEP trabalha pela justiça em defesa dos mais carentes, pela integridade cristã e pelo rigor ético" . Ser progressista significaria ter um compromisso com a transformação permanente da ordem social e política, na busca da justiça social.

   Uma ilustração disso é o verso-divisa do MEP, que aparece em seus documentos e apresentações: "até que corra a justiça como um rio que não seca" (Am 5.24). A busca de justiça social é expressa concretamente na defesa de propostas políticas "que tenham a séria intenção de redistribuir recursos e, o que é mais importante, ainda à luz da Lei de Moisés, democratizar o controle da economia", colocando não só as riquezas econômicas , mas também as culturais, a serviço da população.


   No Brasil, o compromisso da missão integral com o progressismo e a justiça social materializou-se numa clara opção pela esquerda socialista, entendida como oposição ao conservadorismo e luta pela transformação de estruturas injustas da sociedade. As raízes dessa opção política se encontram na própria formação do movimento de missão integral que, na busca por uma aplicação do "evangelho todo para o homem todo", apontou o condicionamento ideológico de toda reflexão teológica e defendeu a construção de uma teologia contextualizada, atenta à situação social, econômica e política da América Latina.

   Essa situação foi interpretada como uma situação de opressão e dependência econômica em relação aos Estados Unidos e à Europa, associada a uma colonização ideológica expressa, inclusive, no domínio das opções políticas, da teologia, das formas de culto e da linguagem das igrejas evangélicas norte-americanas sobre as brasileiras. Falar de um evangélho integral, nessas condições, significaria, necessariamente, buscar uma transformação das estruturas sociais e políticas país. A única resposta possível a esse estado, seria a produção de uma teológia crítica, associada a uma militância política comprometida com o rompimento da dependência e a transformação das estruturas internas de injustiça e concentração de renda.

   Tais preocupações inclinaram o movimeno ao Socilismo. Mas a um Socialismo "renovado", para usar a linguagem de Robinson Cavalcanti, humanístico e democrático, com inequívoca rejeição do autoritarismo : " sou politicamente um liberal, pois defendo a democracia e não a ditadura; e não sou um liberal em economia, pois não advogo o capitalismo, mas sim o Socialismo". Tal Socialismo encarnaria uma nova "utopia" para orientar a luta dos cristãos políticos: Co-beligerantes com parceiros seculares, devemos renovar nossa disposição de luta por uma ordem mundial capaz de garantir efetivamente o direito à igualdade entre os países, à sua autodeterminação e à sua integração mundial não-subalterna. Utopia que é civilização: liberdade, pluralismo, organização, justiça social, amplos mecanismos de representação e participação, transparência e responsabilidade dos órgãos de governo, lazer, qualidade de vida, defesa da natureza, fim da discriminação, igualdade de oportunidades, pluralidade de formas não-monopolísticas e não-oligopolísticas da vida econômica, promoção da cidadania.

   O Socialismo, para ser humanístico e democrático, terá que ser uma sociedade na qual governem e se realizem os seres humanos reais - com suas paixões, seus desejos, suas grandezas e seus defeitos - e não um mítico ser humano perfeito que não é outra coisa senão uma negação do ser humano.

   Os temas de justiça social, redistribuição da riqueza, necessidade de aplicação do evangelho todo ao homem todo, incluindo o homem como ser político, e a crítica ao condicionamento ideológico da pregação cristã norte-americana foram apropriados num projeto que, sem assumir plenamente o marxismo, pretende associar a antropologia e a ética social bíblica a um projeto progressista de transformação social. Esse projeto encontrou no socialismo, a proposta mais coerente com a ética bíblica.



Com base no livro: Cosmovisão Cristã e Transformação








segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Dietrich Bonhoeffer

Quem sou eu?
Frequentemente me dizem, que sai da confinação da minha cela de modo calmo, alegre, firme, como um cavalheiro da sua mansão.
Quem sou eu?
Frequentemente me dizem, que falava com os meus guardas de modo livre, amistoso e claro, como se fossem meu para comandar.
Quem sou eu?
Dizem-me também, que suportarei os dias de infortúnio de modo calmo, sorridente e alegre, como quem está acostumando a vencer.
Sou, então, realmente tudo aquilo que os outros me dizem? Ou sou apenas aquilo que sei acerca de mim mesmo? Inquieto, saudoso e doente, como ave na gaiola, lutando pelo fôlego, como se houvesse mãos apertando a minha garganta, ansioso por cores, por flores, pelas vozes das aves, sedento por palavras de bondade, de boa vizinhança, contubardo na expectativa de grandes eventos, tremendo, impotente, por amigos a uma distância infinita.Cansado e vazio ao orar, ao pensar, ao agir, desmaiando e pronto para dizer adeus a tudo isso.
Quem sou eu? Este ou o outro? Sou uma pessoa hoje e outra amanhã? Sou as duas ao mesmo tempo? Um hipócrita diante dos outros e diante de mim, um fraco, desprezivelmente angustiado? Ou há alguma coisa ainda em mim como um exército derrotado fugindo em debanda da vitória já alcançada?
Quem sou eu? Estas minhas perguntas zombam de mim na solidão.
" Seja quem for eu, Tu sabes ó Deus, que sou Teu!"


Dietrich Bonhoeffer foi um teólogo, polêmico por sua história e obras, pastor luterano, membro da resistência alemã  anti-nazista e membro fundador da Igreja Confessante, contrária à política nazista. Bonhoeffer envolveu-se na trama da Abwehr para assassinar Hitler. O Pastor Luterano saio de sua cidade porque ele sentia a necessidade, como igreja, de fazer algo para acabar com a opressão que Hitler estava impondo, foi um pastor que se importava com a questão econômica, social e política de sua época e por isso não ficou de braços cruzados ao vêr tanta injustiça por parte dos nazistas. Em março de 1943 foi preso, o escrito Quem sou eu? Foi feito enquanto Bonhoeffer estava na prisão, escritos relatam que mesmo ali na prisão muitos soldados se converteram por seu testemunho e pela forma com que todos os dias adorava ao Senhor.

Suas principais obras: 
  • Ética, Editora Sinodal, 2005
  • Discipulado, Editora Sinodal, 2004
  • Resistência e Submissão: Cartas e Anotações Escritas na Prisão, Editora Sinodal, 2003
  • Tentação, Editora Sinodal, 2003
  • Vida em comunhão, Editora Sinodal, 1986
  • Orando com Salmos, Editora Encontro, 1995
Em tempos de crises, nos identificamos com Bonhoeffer, como soldados desistdos, mas mesmo quando estes momentos estiverem a zombar, que venhamos lembrar, que somos de Deus.


    Oração de Dietrich Bonhoeffer

"Dentro de mim está escuro, mas em Ti há luz
Eu estou só, mas Tu não me abandonas
Eu estou desanimado, mas em Ti há auxílio
Eu estou inquieto, mas em Ti há paciência
Não entendo os Teus caminhos, mas tu conheces 
o caminho certo para mim."

A visão de Dietrich Bonhoeffer sobre a igreja:

A igreja só é igreja quando existe em prol dos outros. Para começar deve dar todos os seus bens aos necessitados.
Os cléricos devem viver somente da oferta voluntária das congregações e deve dedicar-se à alguma profissão secular.
A igreja deve participar dos problemas seculares da vida humana comum, ser ativa ao lutar por justiça social e direitos.



 "Santo Mundanismo"

Para se viver verdadeiramente, se deve desfrutar da vida humana aqui e agora, deve se valorizar e desfrutar plenamente o cotidiano.
A vida natural não deve ser entendida simplismente como preliminar para a vida na igreja. O próprio Cristo entrou na vida natural comum do dia-a-dia e, nem por isso, deixou de viver a sua missão.
Quero dizer sem reservas que cada um tem seus deveres, compromissos, problemas, sucessos, fracassos, experiências e perplexidades dessa vida.
Viver nossos compromissos  no meio secular é viver sim uma vida mundana, porém esse termo é usado como negativo o que é errado, viver uma vida mundana também é exercer uma vida santa para com Deus, pois estamos a viver como mordomos daquilo que Ele nos deu e proporcionou.
O que não é ser coerênte é viver como se não existisse uma sociedade, problemas, injustiças sociais, amigos que talvez não compartilhe a mesma idéia que a sua. Se isolar não é ser cristão, muito menos santo.
Devemos achar a Deus e ama-Lo em tudo o que Ele nos proporcionou.


 


domingo, 16 de outubro de 2011

Deus morreu Friedrich Nietzsche?

O mesmo que afirmou que deus morreu, agora Faz oração ao Verdadeiro Deus Criador da Existência. A explicação lógica é que o deus que as religiões do homem formulam, este morreu, e deve morrer de fato, o deus da liturgia, da hipocrisia, da religiosidade exarcebada, da doutrina cega e opressora.
Ao longo da história o homem criou um jugo opressor tamanho que é impossível se aproximar de Deus, este virou uma figura transcedente que não se relaciona com a sua criação, e assim vêm caminhando muitas igrejas e não percebem que estão cegas.
Que deus é esse que vende bençãos e milagres? Que deus é esse que vende terreno no céu? Que deus é esse que só recebe oração de quem está vestido de palitó e gravata? Que se vc tiver de tatuagem não entra no ceu? Que deus é esse que está preocupado em construir enormes templos e não se importa com o verdadeiro templo que é a nossa vida? Que deus é esse que só ama quem está na igreja não se importando com as prostitutas, ladrões, assassinos e meninos de rua? Que deus é esse que se importa em financiar grandes viagens para Jerusalém e não se importa em alimentar a viúva ou os projetos missionários de continentes pobres. Que deus é esse?
Esse deus deve morrer, de fato Friedrich Nietzshe não poderia nunca encontrar o verdadeiro Deus na religião, pois ele de fato ali não está!
Você amigo leitor, não se engane, Deus não tem nada a vêr com tudo isso que construiram por cima de seu nome, esse deus que as religiões pregam está longe de ser o verdadeiro Deus.

Oração de Friedrich Nietzsche

     A Oração ao Deus Desconhecido


Antes de prosseguir em meu caminho e lançar o meu olhar para
frente uma vez mais, elevo, só, minhas mãos a Ti na direção de
quem eu fujo.
A Ti, das profundezas de meu coração, tenho dedicado altares
festivos para que, em Cada momento, Tua voz me pudesse chamar.
Sobre esses altares estão gravadas em fogo estas palavras:
"Ao Deus desconhecido”.
Seu, sou eu, embora até o presente tenha me associado aos
sacrílegos.
Seu, sou eu, não obstante os laços que me puxam para o abismo.
Mesmo querendo fugir, sinto-me forçado a servi-lo.
Eu quero Te conhecer, desconhecido.
Tu, que me penetras a alma e, qual turbilhão, invades a minha vida.
Tu, o incompreensível, mas meu semelhante, quero Te conhecer,
quero servir só a Ti.


(Friedrich Nietzsche)


Uma tradução feita por Leonardo Boff de uma oração escrita por
Nietzsche.

Teísmo Cristão

          Teísmo Cristão é a crença no Monoteísmo, ou seja, na existência de um Deus único. Iniciou-se com o chamado de Abraão rumo à terra prometida, e tomou forma com o nascimento de Cristo expandindo a salvação para toda a humanidade, não sendo privilégio só do povo de Israel, porém vai se firmar no Tempo de Constantino (312 - 337 d.C), onde conseguimos ver com clareza os fatores que influenciaram a partir de então, todas as gerações.
Constantino criou uma capital como sede de seu Império na cidade de Bizâncio que depois ficou como Constantinopla, hoje ela fica em Estambu na Turquia. Ele instituiu a Igreja Católica Apostólica Romana como Oficial e do Estado por pelo menos dois motivos: 1- O Cristianismo crescia de forma extraordinária pela perseguição por parte dos pagãos, e Constantino queria o seu apoio para continuar no poder; 2- Acabar com os conflitos entre o Paganismo e Cristianismo, pois ele não iria cair no erro de perder também o apoio dos pagãos. Para ter ambos apoio Constantino Oficializa o Cristianismo e, começou a negociar benefícios para quem se convertesse ao Cristianismo, como: ganhar terras e ser isentos de impostos entre outros. A idéia de Constantino não era acabar com os rituais pagãos e sim unificar e igualar ambas religiões.  
          Constantino leva então para o cristianismo elementos pagão como: 1- Liturgia; 2- das casas, o culto passou a ser no templo; 3- Incenso; 4- Gestos; 5- Procição; 6- é mudado o dia do Senhor para o Domingo; 7- Santos; 8- Natal, (25 de Dezembro) que por sinal era a comemoração do aniversário de Ninroide o deus Sol celebrado pelos pagãos e, agora é também instituído como aniversário de Jesus, nesse dia, cada um celebrava a quem acreditava. Entre outros elementos.
            Por esses fatos surgiram alguns grupos:
  1. Pais do Deserto “Santo Antão”, que não se misturou com o paganismo, mas não rompeu com a igreja, foram para o deserto.
  2.  2- Os Sismáticos que romperam com a igreja e, eram separatistas.
  3. Os que permaneceram na igreja se misturaram, surgindo várias heresias além das que já existiam e que influenciam até os nossos dias. Algumas Heresias foram contestadas e enfraquecidas no Concílio de Nicéia (325 d.C.). Principais heresias:  
Judaísmo (Séc. I) – Fundador: Judeus convertidos ao cristianismo; é caracterizado pelo Legalismo, Circuncisão e Lei de Moisés.
Gnosticismo (Séc. I e II) – Fundador: Cerinto; é caracterizado pelo Ascetismo (negação do desejo para uma meta espiritual), e Depreciação material e física para a elevação da alma e do espírito.
Arianismo (Séc. IV) – Fundador: Ário; é caracterizado pela negação da divindade de Cristo.
  Marcionismo (Séc. II) – Fundador: Marcião; é caracterizado pela crença de dois deuses A.T X N.T, pela negação do A.T., e acreditam que só existe o deus amoroso.
Montanismo (Séc. II) – Fundador: Montano; é caracterizado pelo Ascetismo, Legalismo, e vê a sexualidade como um mal.
Maniqueísmo (Séc. III) – Fundador: Maniqueu; é caracterizado pelo Dualismo (Luz X Trevas), Ascetismo e sexualidade como mal.
Pelagianismo (Séc. V) – Fundador: Pelágio (o pai do livre-arbítrio); é caracterizado pela negação do pecado original, e pela descrença da graça divina. 
Quando paramos para refletir sobre os erros da igreja, o nosso coração é invadido por uma indignação, mas quando olhamos para os nossos erros, por mais “simples” que eles pareçam ser, conseguimos ter um pouco mais de compaixão por ela, pois nós somos a igreja. Ao lidamos com o humano, sempre haverá erros, e por isso mesmo temos junto ao Pai um advogado que julga todas as causas.
 Aprendamos que a busca ambiciosa e incontrolável pelo poder, quebra toda aliança. A igreja é marcada por deslizamentos, porém o próprio Deus levanta os seus Profetas para denunciar os erros, trazendo arrependimento, fazendo valer o sacrifício de Cristo para restaurar essa aliança com Deus.
Tempos depois Deus levanta Martinho Lutero um padre monasteiro e um cristão coerente, que denuncia os erros da Igreja, uma delas é o comércio das indulgências. Ele Publica as 95 teses em 31 de outubro de 1517, no castelo de Wittenberg.
A partir do Século XVII com o Iluminismo “Era da Razão” na Europa, o Cristianismo enfraquece, apesar de Deus ter levantado grandes avivalistas como: Jonathan Edwards, Charles G. Finney entre outros; para quebrar com o racionalismo e a Ciência, não evitou a separação da religião do mundo secular, compreendida pela política e ciência. O Cristianismo perde forças e vem a ciência ocupar o lugar da fé e da religião.
A globalização que vem se formando no final do século XX e início do século XXI com a necessidade do capitalismo, através de uma aldeia global, vem expandindo os mercados e integrando a economia, a política, o social, a cultura, e como já esperamos, vem tentar “unificar” também a religião, trazendo com mais força o relativismo para a sociedade formando uma forte corrente contra o cristianismo.
Foi traçado uma linha pela história em síntese, para entender que o Teísmo Cristão conseguiu ficar de pé, mesmo com as diversas ideologias surgidas. Muitos foram os Heróis da fé que preferiram serem mártires a negar Jesus Cristo, porque acreditaram nas verdades Bíblicas. Sejamos nós os Heróis da Fé em nosso tempo, não negocie mais Jesus Cristo, decida hoje ser um cristão coerente!
            A ciência não é a cosmovisão de hoje! É a Pós – Modernidade e, todas as cosmovisões citadas no começo do texto estão presentes na mesma, porém a ciência foi a grande contribuidora para a cosmovisão atual. A ciência conseguiu enfraquecer o cristianismo e, o nosso maior desafio hoje é resgatar o Teísmo Cristão nas pessoas.
“Um pouco de ciência afasta o homem de Deus, Muita Ciência o traz de volta” (Francis Bacon)
      C.S.Lewis (1898-1963), foi um ex- ateísta, um dos cristãos mais destacados do século XX, suas obras mais conhecidas: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa; As Crônicas de Nárnia etc... . Lewis nasceu em um lar cristão, porém começou a ter dúvidas a respeito de Deus quando sua mãe morreu de câncer, quando foi para um internato e virou um ateu confesso. Foi educado por um professor particular conhecedor de literatura clássica, contribuindo para que Lewis mais tarde virasse um grande escritor, ao mesmo tempo em que se firmava em seu ceticismo. Em 1929, Lewis “reconheceu que “Deus era Deus”, ajoelhou e orou”, e dois anos depois admitiu Jesus Cristo é o Filho de Deus e tornou-se membro de uma Igreja da Inglaterra quando, passou por vários processos de desconstrução: leu autores cristãos como George MacDonald - Pantastes – e G.K. Chesterton – The Everlasting -, ele também leu uma carta contendo as seguintes palavras: “... é um mundo miserável, e nós havíamos pensado que seríamos felizes com livros e musicas! palavras tão simples, mas que abriram os olhos de Lewis, e finalmente, ele foi confrontado pelas verdades libertadoras que quebraram com todos os seus argumentos, pelos seus amigos cristãos, entre eles J.R.R. Tolkien também escritor. 
Deus é a nossa realidade primordial, Ele criou o mundo pela Sua palavra, (Gn:1), o Deus que servimos é um Deus eterno (Sl 90:2; 102:12; II Pe. 3:8), pessoal (Filipenses 2: 7-8), triuno – um em essência e três em pessoa –  (Mt. 3:16-17; Is. 44:6; Jô 1:1; At. 5: 3-4), transcendental, imanente, soberano, onisciente, onipotente, onipresente, (I Reis 8:27; Sl 139:7-10; Is 66:1) auto-existente (Ex: 3:13,14; Jô. 5:26; At. 17:25) e imutável (Ap.4).
Acreditamos que o homem foi feito a imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1:26), nos aspectos do conhecimento, consciência moral, consciência divina, inteligência e, pelos atributos comunicáveis de Deus ao homem – Bondade, Justiça entre outros.
Cremos que quando a pessoa morre, ela vai viver eternamente com Deus, ou, vai viver eternamente sem Deus (Hebreus 9:27), (Apocalipse 21:7,8), (Lucas 16:19-31), (João 11.25-26), (João 5.24), (Romanos 6.23), (João 3.16), o único e impreterível meio de salvação é a fé em Jesus Cristo - Sola Fide / Solus Christus – (Efésios 2: 8-9), e a Bíblia Sagrada é a nossa única regra de fé - Sola Scriptura. A sua Graça - A Sola Gratia – é dom gratuito de Deus, para que o homem saiba o porque ele existe, e saiba sobre a salvação e o meio de alcança-la. (Efésios 2:8), (1 Pedro 4:10).
 Só nos é possível conhecer alguma coisa porque Deus nos deu a capacidade do conhecimento. Compreendemos o que é certo e errado pelo senso moral. Deus criou o homem bom, mas depois da queda o homem se corrompeu, e a imagem de Deus no homem ficou desfigurada, mas Jesus nos deu a opção da Redenção, (Pedro 1:18-19), (Jo 1,29), (Mc 10,38), (Jo 10,18; 14,31; (Rm 5,8-10; 8,32), (Jo 12,31; 14,30). (Ef 2,17; 6,15).
O significado da história humana no Teísmo Cristão é Deus tomando a iniciativa de se revelar ao homem, buscando um relacionamento pessoal, trazendo-o de volta para si no plano de Redenção por meio de Jesus Cristo. Mesmo sabendo que o homem iria escolher pelo fruto do conhecimento do bem e do mal (Gênesis- 2:9), Deus não abriu mão que o homem vivesse Sua linda história de amor.
O Cristianismo não é meramente religião, definida estritamente como piedade e adoração comunitária. O Cristianismo é também uma perspectiva objetiva de toda a realidade, uma cosmovisão completa.  Somente o Cristianismo se mantém coerente de pé ante o teste da vida, o Cristianismo combina com o modo de como devemos agir, se desejarmos viver humana e racionalmente no mundo real. (COLSON e NANCY, 2005, pág. 132.).




“Antes, santificai ao Senhor Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós” (I Pedro 3:13.)




Adriana Memória de Andrade.