segunda-feira, 3 de junho de 2013

Cosmovisão Cristã: Posicionamento da Igreja.


Uma multiplicidade de movimentos de cunho espiritual emergiu neste início de milênio. Surgiram novas e diversas seitas esotéricas, místicas e mágicas, bem como denominações neopetecostais e movimentos de avivamentos no interior das igrejas conhecidas como tradicionais. Além disso, todos os fenômenos religiosos                   atingiram a grande mídia, sendo caracterizado por um apelo fortemente emocional,veiculando imagens de uma significativa "transformação" de vida e de satisfação individual imediata. Qualquer cristão, minimamente informado, perceberá que as "transformações" recentes que o meio "cristão" tem vivenciado guardam paralelos intrigantes com os caminhos da sociedade contemporânea, como um todo. A suspeita se manifesta com as seguintes indagações: quando, do que somos, é aquilo que devemos ser, aquilo que o evangelho ensina, e quanto do que somos é meramente uma resposta ao ambiente social e religioso?

Vamos encarar o problema, então. Seria essa a nossa finalidade? Prover à sociedade moderna uma forma hedonista de religião, centrada na experiência prazerosa do divino? Apresentar ao homem contemporâneo o "deus dos seus sonhos", um alívio de fim de semana, customizado e com garantia de devolução? Em meio a toda essa movimentação religiosa,não temos nada de singular e essencial a oferecer,do ponto de vista da relevância histórica?

Se a nossa forma de espiritualidade é periférica, porque se adapta ao hedonismo moderno, sem ferir o coração da sociedade moderna,então já estamos decaídos. A igreja tem se adaptado aos prazeres dessa paz interior no coração da sociedade, os púlpitos da igreja se tornou um " show de milagres, curas instantâneas" em troca de dinheiro que levará ao homem à "Prosperidade", ou virou meramente comércio, oração e milagre em troca de um pedaço de terra no céu, em tempos de eleição, esta virou palanques para eleger políticos descompromissados com o verdadeiro evangelho. A questão fundamental, não é a prosperidade, ou a cura e milagres, ou até mesmo um projeto político, a questão fundamental é a motivação ou como as coisas tem se desenvolvido, o ponto central não é mais JESUS e sim o comércio da fé e a manipulação por aqueles que são denominados as lideranças das igrejas e a cada dia nós, a IGREJA - que não são quatro paredes, mas sim cada um de nós - temos nos afastados do foco,e do que realmente é a nossa missão para este mundo.

O Reino de Deus é revelado na pessoa de Jesus Cristo, deve se manifestar em cada aspecto de vida de um cidadão do reino,onde quer que o homem esteja, seja o que faça, ou no que aplique, está empregado do serviço de Deus e deve ter como alvo a glória e o evangelho de Jesus. O Cristão verdadeiro deve ser alguém com a mentalidade diferente, cuja postura diante da vida difere, em toda a sua extensão, daquele que não tem a mente de Cristo, se não for assim,então o cristianismo não será algo realmente fundamental. De acordo com o censo do IBGE 2000, a população evangélica cresceu 70,7% de 1991 para 2000, passando de 9,05% da população total do país para 15, 4% Se a igreja não discipular a sociedade, será discipulada por ela! Não podemos construir artificialmente um evangelho transformador, nem fechar os nossos olhos para as várias expressões da questão social como a corrupção da  política, cultura, a perplexidade do que se transformou a família, a imoralidade, a degradação educacional, às questões éticas e jurídicas entre tantas outras questões onde é necessário o discipulado e posicionamento cristão. A Transformação como fruto de um ensinamento e discipulado genuinamente cristão só será reconhecido como tal, quando houver diminuição da corrupção, morte, fome, desigualdades, guerras entre outros, for realidade e quando esses acontecimentos forem realidade, a volta de nosso Pai, estará próxima.

" Não precisamos de pastores, bispos ou até mesmo apóstolos, o que precisamos é de cristãos coerentes!"

"Qualquer ensinamento que não se enquadre nas Escrituras deve ser rejeitado, mesmo que faça chover milagres todos os dias."
(Martinho Lutero)

Cosmovisão e Transformação Cristã.

Pacto de Lausanne



1. O Propósito de Deus

Afirmamos a nossa crença no único Deus eterno, Criador e Senhor do Mundo, Pai, Filho e Espírito Santo, que governa todas as coisas segundo o propósito da sua vontade. Ele tem chamado do mundo um povo para si, enviando-o novamente ao mundo como seus servos e testemunhas, para estender o seu reino, edificar o corpo de Cristo, e também para a glória do seu nome. Confessamos, envergonhados, que muitas vezes negamos o nosso chamado e falhamos em nossa missão, em razão de nos termos conformado ao mundo ou nos termos isolado demasiadamente. Contudo, regozijamo-nos com o fato de que, mesmo transportado em vasos de barro, o evangelho continua sendo um tesouro precioso. À tarefa de tornar esse tesouro conhecido, no poder do Espírito Santo, desejamos dedicar-nos novamente.

2. A Autoridade e o Poder da Bíblia

Afirmamos a inspiração divina, a veracidade e autoridade das Escrituras tanto do Velho como do Novo Testamento, em sua totalidade, como única Palavra de Deus escrita, sem erro em tudo o que ela afirma, e a única regra infalível de fé e prática. Também afirmamos o poder da Palavra de Deus para cumprir o seu propósito de salvação. A mensagem da Bíblia destina-se a toda a humanidade, pois a revelação de Deus em Cristo e na Escritura é imutável. Através dela o Espírito Santo fala ainda hoje. Ele ilumina as mentes do povo de Deus em toda cultura, de modo a perceberem a sua verdade, de maneira sempre nova, com os próprios olhos, e assim revela a toda a igreja uma porção cada vez maior da multiforme sabedoria de Deus.

3. A Unicidade e a Universalidade de Cristo

Afirmamos que há um só Salvador e um só evangelho, embora exista uma ampla variedade de maneiras de se realizar a obra de evangelização. Reconhecemos que todos os homens têm algum conhecimento de Deus através da revelação geral de Deus na natureza. Mas negamos que tal conhecimento possa salvar, pois os homens, por sua injustiça, suprimem a verdade. Também rejeitamos, como depreciativo de Cristo e do evangelho, todo e qualquer tipo de sincretismo ou de diálogo cujo pressuposto seja o de que Cristo fala igualmente através de todas as religiões e ideologias. Jesus Cristo, sendo ele próprio o único Deus-homem, que se ofereceu a si mesmo como único resgate pelos pecadores, é o único mediador entre Deus e os homems. Não existe nenhum outro nome pelo qual importa que sejamos salvos. Todos os homens estão perecendo por causa do pecado, mas Deus ama todos os homens, desejando que nenhum pereça, mas que todos se arrependam. Entretanto, os que rejeitam Cristo repudiam o gozo da salvação e condenam-se à separação eterna de Deus. Proclamar Jesus como "o Salvador do mundo" não é afirmar que todos os homens, automaticamente, ou ao final de tudo, serão salvos; e muito menos que todas as religiões ofereçam salvação em Cristo. Trata-se antes de proclamar o amor de Deus por um mundo de pecadores e convidar todos os homens a se entregarem a ele como Salvador e Senhor no sincero compromisso pessoal de arrependimento e fé. Jesus Cristo foi exaltado sobre todo e qualquer nome. Anelamos pelo dia em que todo joelho se dobrará diante dele e toda língua o confessará como Senhor.

4. A Natureza da Evangelização

Evangelizar é difundir as boas novas de que Jesus Cristo morreu por nossos pecados e ressuscitou segundo as Escrituras, e de que, como Senhor e Rei, ele agora oferece o perdão dos pecados e o dom libertador do Espírito a todos os que se arrependem e crêem. A nossa presença cristã no mundo é indispensável à evangelização, e o mesmo se dá com aquele tipo de diálogo cujo propósito é ouvir com sensibilidade, a fim de compreender. Mas a evangelização propriamente dita é a proclamação do Cristo bíblico e histórico como Salvador e Senhor, com o intuito de persuadir as pessoas a vir a ele pessoalmente e, assim, se reconciliarem com Deus. Ao fazermos o convite do evangelho, não temos o direito de esconder o custo do discipulado. Jesus ainda convida todos os que queiram segui-lo e negarem-se a si mesmos, tomarem a cruz e identificarem-se com a sua nova comunidade. Os resultados da evangelização incluem a obediência a Cristo, o ingresso em sua igreja e um serviço responsável no mundo.

5. A Responsabilidade Social Cristã

Afirmamos que Deus é o Criador e o Juiz de todos os homens. Portanto, devemos partilhar o seu interesse pela justiça e pela conciliação em toda a sociedade humana, e pela libertação dos homens de todo tipo de opressão. Porque a humanidade foi feita à imagem de Deus, toda pessoa, sem distinção de raça, religião, cor, cultura, classe social, sexo ou idade possui uma dignidade intrínseca em razão da qual deve ser respeitada e servida, e não explorada. Aqui também nos arrependemos de nossa negligência e de termos algumas vezes considerado a evangelização e a atividade social mutuamente exclusivas. Embora a reconciliação com o homem não seja reconciliação com Deus, nem a ação social evangelização, nem a libertação política salvação, afirmamos que a evangelização e o envolvimento sócio-político são ambos parte do nosso dever cristão. Pois ambos são necessárias expressões de nossas doutrinas acerca de Deus e do homem, de nosso amor por nosso próximo e de nossa obediência a Jesus Cristo. A mensagem da salvação implica também uma mensagem de juízo sobre toda forma de alienação, de opressão e de discriminação, e não devemos ter medo de denunciar o mal e a injustiça onde quer que existam. Quando as pessoas recebem Cristo, nascem de novo em seu reino e devem procurar não só evidenciar mas também divulgar a retidão do reino em meio a um mundo injusto. A salvação que alegamos possuir deve estar nos transformando na totalidade de nossas responsabilidades pessoais e sociais. A fé sem obras é morta.

6. A Igreja e a Evangelização

Afirmamos que Cristo envia o seu povo redimido ao mundo assim como o Pai o enviou, e que isso requer uma penetração de igual modo profunda e sacrificial. Precisamos deixar os nossos guetos eclesiásticos e penetrar na sociedade não-cristã. Na missão de serviço sacrificial da igreja a evangelização é primordial. A evangelização mundial requer que a igreja inteira leve o evangelho integral ao mundo todo. A igreja ocupa o ponto central do propósito divino para com o mundo, e é o agente que ele promoveu para difundir o evangelho. Mas uma igreja que pregue a Cruz deve, ela própria, ser marcada pela Cruz. Ela torna-se uma pedra de tropeço para a evangelização quando trai o evangelho ou quando lhe falta uma fé viva em Deus, um amor genuíno pelas pessoas, ou uma honestidade escrupulosa em todas as coisas, inclusive em promoção e finanças. A igreja é antes a comunidade do povo de Deus do que uma instituição, e não pode ser identificada com qualquer cultura em particular, nem com qualquer sistema social ou político, nem com ideologias humanas.

7. Cooperação na Evangelização

Afirmamos que é propósito de Deus haver na igreja uma unidade visível de pensamento quanto à verdade. A evangelização também nos convoca à unidade, porque o ser um só corpo reforça o nosso testemunho, assim como a nossa desunião enfraquece o nosso evangelho de reconciliação. Reconhecemos, entretanto, que a unidade organizacional pode tomar muitas formas e não ativa necessariamente a evangelização. Contudo, nós, que partilhamos a mesma fé bíblica, devemos estar intimamente unidos na comunhão uns com os outros, nas obras e no testemunho. Confessamos que o nosso testemunho, algumas vezes, tem sido manchado por pecaminoso individualismo e desnecessária duplicação de esforço. Empenhamo-nos por encontrar uma unidade mais profunda na verdade, na adoração, na santidade e na missão. Instamos para que se apresse o desenvolvimento de uma cooperação regional e funcional para maior amplitude da missão da igreja, para o planejamento estratégico, para o encorajamento mútuo, e para o compartilhamento de recursos e de experiências.

8. Esforço Conjugado de Igrejas na Evangelização

Regozijamo-nos com o alvorecer de uma nova era missionária. O papel dominante das missões ocidentais está desaparecendo rapidamente. Deus está levantando das igrejas mais jovens um grande e novo recurso para a evangelização mundial, demonstrando assim que a responsabilidade de evangelizar pertence a todo o corpo de Cristo. Todas as igrejas, portando, devem perguntar a Deus, e a si próprias, o que deveriam estar fazendo tanto para alcançar suas próprias áreas como para enviar missionários a outras partes do mundo. Deve ser permanente o processo de reavaliação da nossa responsabilidade e atuação missionária. Assim, haverá um crescente esforço conjugado pelas igrejas, o que revelará com maior clareza o caráter universal da igreja de Cristo. Também agradecemos a Deus pela existência de instituições que laboram na tradução da Bíblia, na educação teológica, no uso dos meios de comunicação de massa, na literatura cristã, na evangelização, em missões, no avivamento de igrejas e em outros campos especializados. Elas também devem empenhar-se em constante auto-exame que as levem a uma avaliação correta de sua efetividade como parte da missão da igreja.

9. Urgência da Tarefa Evangelística

Mais de dois bilhões e setecentos milhões de pessoas, ou seja, mais de dois terços da humanidade, ainda estão por serem evangelizadas. Causa-nos vergonha ver tanta gente esquecida; continua sendo uma reprimenda para nós e para toda a igreja. Existe agora, entretanto, em muitas partes do mundo, uma receptividade sem precedentes ao Senhor Jesus Cristo. Estamos convencidos de que esta é a ocasião para que as igrejas e as instituições para-eclesiásticas orem com seriedade pela salvação dos não-alcançados e se lancem em novos esforços para realizarem a evangelização mundial. A redução de missionários estrangeiros e de dinheiro num país evangelizado algumas vezes talvez seja necessária para facilitar o crescimento da igreja nacional em autonomia, e para liberar recursos para áreas ainda não evangelizadas. Deve haver um fluxo cada vez mais livre de missionários entre os seis continentes num espírito de abnegação e prontidão em servir. O alvo deve ser o de conseguir por todos os meios possíveis e no menor espaço de tempo, que toda pessoa tenha a oportunidade de ouvir, de compreender e de receber as boas novas. Não podemos esperar atingir esse alvo sem sacrifício. Todos nós estamos chocados com a pobreza de milhões de pessoas, e conturbados pelas injustiças que a provocam. Aqueles dentre nós que vivem em meio à opulência aceitam como obrigação sua desenvolver um estilo de vida simples a fim de contribuir mais generosamente tanto para aliviar os necessitados como para a evangelização deles.

10. Evangelização e Cultura

O desenvolvimento de estratégias para a evangelização mundial requer metodologia nova e criativa. Com a bênção de Deus, o resultado será o surgimento de igrejas profundamente enraizadas em Cristo e estreitamente relacionadas com a cultura local. A cultura deve sempre ser julgada e provada pelas Escrituras. Porque o homem é criatura de Deus, parte de sua cultura é rica em beleza e em bondade; porque ele experimentou a queda, toda a sua cultura está manchada pelo pecado, e parte dela é demoníaca. O evangelho não pressupõe a superioridade de uma cultura sobre a outra, mas avalia todas elas segundo o seu próprio critério de verdade e justiça, e insiste na aceitação de valores morais absolutos, em todas as culturas. As missões muitas vezes têm exportado, juntamente com o evangelho, uma cultura estranha, e as igrejas, por vezes, têm ficado submissas aos ditames de uma determinada cultura, em vez de às Escrituras. Os evangelistas de Cristo têm de, humildemente, procurar esvaziar-se de tudo, exceto de sua autenticidade pessoal, a fim de se tornarem servos dos outros, e as igrejas têm de procurar transformar e enriquecer a cultura; tudo para a glória de Deus.

11. Educação e Liderança

Confessamos que às vezes temos nos empenhado em conseguir o crescimento numérico da igreja em detrimento do espiritual, divorciando a evangelização da edificação dos crentes. Também reconhecemos que algumas de nossas missões têm sido muito remissas em treinar e incentivar líderes nacionais a assumirem suas justas responsabilidades. Contudo, apoiamos integralmente os princípios que regem a formação de uma igreja de fato nacional, e ardentemente desejamos que toda a igreja tenha líderes nacionais que manifestem um estilo cristão de liderança não em termos de domínio, mas de serviço. Reconhecemos que há uma grande necessidade de desenvolver a educação teológica, especialmente para líderes eclesiáticos. Em toda nação e em toda cultura deve haver um eficiente programa de treinamento para pastores e leigos em doutrina, em discipulado, em evangelização, em edificação e em serviço. Este treinamento não deve depender de uma metodologia estereotipada, mas deve se desenvolver a partir de iniciativas locais criativas, de acordo com os padrões bíblicos.

12. Conflito Espiritual

Cremos que estamos empenhados num permanente conflito espiritual com os principados e postestades do mal, que querem destruir a igreja e frustrar sua tarefa de evangelização mundial. Sabemos da necessidade de nos revestirmos da armadura de Deus e combater esta batalha com as armas espirituais da verdade e da oração. Pois percebemos a atividade no nosso inimigo, não somente nas falsas ideologias fora da igreja, mas também dentro dela em falsos evangelhos que torcem as Escrituras e colocam o homem no lugar de Deus. Precisamos tanto de vigilância como de discernimento para salvaguardar o evangelho bíblico. Reconhecemos que nós mesmos não somos imunes à aceitação do mundanismo em nossos atos e ações, ou seja, ao perigo de capitularmos ao secularismo. Por exemplo, embora tendo à nossa disposição pesquisas bem preparadas, valiosas, sobre o crescimento da igreja, tanto no sentido numérico como espiritual, às vezes não as temos utilizado. Por outro lado, por vezes tem acontecido que, na ânsia de conseguir resultados para o evangelho, temos comprometido a nossa mensagem, temos manipulado os nossos ouvintes com técnicas de pressão, e temos estado excessivamente preocupados com as estatísticas, e até mesmo utilizando-as de forma desonesta. Tudo isto é mundano. A igreja deve estar no mundo; o mundo não deve estar na igreja.

13. Liberdade e Perseguição

É dever de toda nação, dever que foi estabelecido por Deus, assegurar condições de paz, de justiça e de liberdade em que a igreja possa obedecer a Deus, servir a Cristo Senhor e pregar o evangelho sem quaisquer interferências. Portanto, oramos pelos líderes das nações e com eles instamos para que garantam a liberdade de pensamento e de consciência, e a liberdade de praticar e propagar a religião, de acordo com a vontade de Deus, e com o que vem expresso na Declaração Universal do Direitos Humanos. Também expressamos nossa profunda preocupação com todos os que têm sido injustamente encarcerados, especialmente com nossos irmãos que estão sofrendo por causa do seu testemunho do Senhor Jesus. Prometemos orar e trabalhar pela libertação deles. Ao mesmo tempo, recusamo-nos a ser intimidados por sua situação. Com a ajuda de Deus, nós também procuraremos nos opor a toda injustiça e permanecer fiéis ao evangelho, seja a que custo for. Nós não nos esquecemos de que Jesus nos previniu de que a perseguição é inevitável.

14. O Poder do Espírito Santo

Cremos no poder do Espírito Santo. O pai enviou o seu Espírito para dar testemunho do seu Filho. Sem o testemunho dele o nosso seria em vão. Convicção de pecado, fé em Cristo, novo nascimento cristão, é tudo obra dele. De mais a mais, o Espírito Santo é um Espírito missionário, de maneira que a evangelização deve surgir espontaneamente numa igreja cheia do Espírito. A igreja que não é missionária contradiz a si mesma e debela o Espírito. A evangelização mundial só se tornará realidade quando o Espírito renovar a igreja na verdade, na sabedoria, na fé, na santidade, no amor e no poder. Portanto, instamos com todos os cristãos para que orem pedindo pela visita do soberano Espírito de Deus, a fim de que o seu fruto todo apareça em todo o seu povo, e que todos os seus dons enriqueçam o corpo de Cristo. Só então a igreja inteira se tornará um instrumento adequado em Suas mãos, para que toda a terra ouça a Sua voz.

15. O Retorno de Cristo

Cremos que Jesus Cristo voltará pessoal e visivelmente, em poder e glória, para consumar a salvação e o juízo. Esta promessa de sua vinda é um estímulo ainda maior à evangelização, pois lembramo-nos de que ele disse que o evangelho deve ser primeiramente pregado a todas as nações. Acreditamos que o período que vai desde a ascensão de Cristo até o seu retorno será preenchido com a missão do povo de Deus, que não pode parar esta obra antes do Fim. Também nos lembramos da sua advertência de que falsos cristos e falsos profetas apareceriam como precursores do Anticristo. Portanto, rejeitamos como sendo apenas um sonho da vaidade humana a idéia de que o homem possa algum dia construir uma utopia na terra. A nossa confiança cristã é a de que Deus aperfeiçoará o seu reino, e aguardamos ansiosamente esse dia, e o novo céu e a nova terra em que a justiça habitará e Deus reinará para sempre. Enquanto isso, rededicamo-nos ao serviço de Cristo e dos homens em alegre submissão à sua autoridade sobre a totalidade de nossas vidas.



[Lausanne, Suíça, 1974]

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Indiferença

"Muitas vezes, nas ruas mais agitadas deste mundo,
Muitas vezes, em meio à confusão da luta,
Surge um desejo inexprimível
De conhecer nossa vida encoberta:
Uma ânsia de consumir nossa chama e força impetuosa
Para encontrar a pista do nosso curso original;
Um desejo de investigar
Os mistérios deste coração que bate
Tão louco, tão profundo dentro de nós - para conhecer
De onde nossas vidas vêm e para onde elas vão."

Matthew Arnold, The Buried Life [ A vida Encoberta ]

Certo homem disse ao universo:

"Senhor, eu existo."
"Entretanto", replicou o universo, " o fato não criou em mim um senso de obrigação ."

Quão diferentes são as palavras do antigo salmista, que olhou para si mesmo e para Deus e expressou:

   Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome! Pois expuseste   nos céus a tua majestade.
   Da boca de pequeninos e crianças de peito suscitaste força, por causa dos teus adversários, para fazeres emudecer o inimigo e o vingador.
   Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, e a lua e as estrelas que estabeleceste,
   que é o homem, que dele te lembres E o filho do homem, que o visites?
   Fizeste-o, no entanto, por um pouco, menor do que Deus e de glória e de honra o coroaste.
   Deste-lhe domínio sobre as obras da tua mão e sob seus pés tudo lhe puseste:
   ovelhas e bois, todos, e também os animais do campo;
   as aves do céu, e os peixes do mar, e tudo o que percorre as sendas dos mares.
  Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome!
 
(Salmos 08)
 

Há toda diferença do mundo entre as cosmovisões presentes nesses dois poemas. De fato, eles propõem universos alternativos. Não obstante, ambos os poemas reverberam na mente e alma das pessoas hoje em dia. O salmista afirma sobre a mão de Deus no cosmo e seu amor pelas pessoas. Elas anseiam por algo que não podem mais verdadeiramente aceitar. O vazio deixado pela perda do centro da vida é como o abismo no coração de uma criança que perdeu seu pai. Como aqueles que não creem mais em Deus desejam preencher esse vazio!

E muitos que, apesar de estarem do lado do salmista e cuja fé no Senhor Deus é vital e plena, ainda sentem a luta do poema de Crame. Sim, é exatamente isso o que significa perder a Deus. Sim, é isso o que aqueles que não têm fé no Senhor pessoal e infinito, Criador do universo devem sentir, qual seja, alienação, solidão e mesmo desespero.

O Universo ao Lado / James W. Sire

domingo, 23 de outubro de 2011

Um papo com Lutero

De todos os homens que passaram por esse mundo, um que eu realmente queria ter conhecido era Lutero – aquele cara que ajudou a fazer a Reforma. Gostaria de deixar bem claro que é reforma protestante, Lutero não era um mestre de obras, pedreiro ou coisa assim… Se bem que ele balançou as estruturas no seu tempo.

Gosto do jeitão dele meio fanfarrão, capaz de pegar musica de cabaré e tocar na igreja sem o menor constrangimento. Esse cara era rock! Não eu estou dizendo que Lutero era igual o Roque (ajudante de palco) do Silvio Santos, na verdade estou afirmando que ele tinha atitude. Coisa rara hoje em dia.

Gosto tanto desse cara que outro dia acabei cochilando e tendo o seguinte sonho:
(A cena se passa na sala da minha casa. Eu estou vendo TV e imerso no seguinte problema: “Pra que alguém compra um horário na TV se não tem conteúdo pra passar?”)
Lutero: E ai meu jovem! O que tem de bom nessa telinha?
Eu: Nada. Estou aqui assistindo o programa desse apóstolo e até agora só aprendi o número da conta da igreja dele.
Lutero: E qual texto da Bíblia ele comentou?
Eu: Texto da bíblia? Acho que se ele tem um exemplar da Sagrada Escritura deve ter guardado tão bem que nem sabe onde guardou, ou é daqueles que não usa bíblia porque têm a Palavra guardada no coração, essas desculpas que o povo arruma.
Lutero: Mas conta alguma coisa que ele disse pelo menos…
Eu: Passou uns quinze minutos pedindo oferta pra manter o programa no ar, dizendo que é muito caro o custo e tal. Disse que se a gente ajudar e for mantenedor, Deus se alegrará e a gente terá uma vaga no céu e as bênçãos celestiais cairão sobre nós.
Lutero: Ué! Pensei que a venda de indulgências tivesse acabado…
Eu: Que nada! Tá na moda. Acho até que o povo gosta de pagar por uma quitinete no céu! Na verdade paga o valor de uma mansão no fim eles entregam uma quitinete toda cheia de buraco e rachadura em qualquer lugar por aqui mesmo. Quando entregam…
Lutero: Desse jeito vou ter que começar outra reforma…
Eu: Era uma boa mesmo sabia? Porque o deus que eles apresentam não parece nada com o nosso.
Lutero: Como assim?
Eu: O deus deles faz tudo o que eles querem, nunca diz não! É tipo gênio da lâmpada, basta fazer o pedido e esperar, que tudo é entregue no máximo em quinze dias na própria residência com frete incluído!
Lutero: Ah, então eu já sei quem é o deus deles!

Eu: Quem?
Lutero: Papai Noel!
Eu: He! He! He! He! Só você mesmo Luterão!
(eu desperto do sono e ouço uma música de fundo cantarolando assim… “Estou seguindo a Jesus Cristo…”)

Carta do filme: Cartas para Julieta

"E" e "Se" são duas palavras tão inofensivas quanto qualquer palavra, mas coloque-as juntas lado a lado, e elas tem o poder de assombra-lá pelo resto da sua vida. "E se".. E se? E se?

Não sei como sua história acabou. Mas sei o que você sentia na época era amor verdadeiro então nunca é tarde demais. Se era verdadeiro então, porque não o seria agora? Voce só precisa ter coragem para seguir seu coração. Não sei como é sentir amor como o de Julieta, um amor pelo qual abandonar entes queridos, um amor pelo qual cruzar oceanos. Mas gosto de pensar que, se um dia sentisse, eu teria coragem de agarra-lo. E Claire se voce não o fez, espero que um dia faça.

Com todo meu amor.

Julieta

Vida de MALINOWSKI / Difusionismo e Funcionalismo

VIDA

         Doutorando-se em física e química lê o “ramo de ouro” de Frazer. Depois vai estudar psicologia experimental e história econômica com Bücher. Wundt que fora mestre de  Durkheim e de Boas, e estava interessado em Antropologia, também torna-se mestre de Malinowski. A Volkerpsychologie  (escola de Wundt) dizia respeito à cultura, “aqueles produtos mentais que são criados por uma comunidade de vida humana e que, são inexplicáveis em termos de mera consciência individual, uma vez que pressupõe a ação recíproca de muitos”, uma concepção que estava relacionada com a noção de “consciência coletiva” de Durkheim.

         Wundt era contrário a que se descrevesse o desenvolvimento de um fenômeno cultural em isolamento, quer se tratasse de linguagem, mito ou religião, pois as “várias expressões mentais, sobretudo em seus estágios iniciais, estão de tal modo interligadas que dificilmente são separáveis umas das outras.  Malinowski, passou dois anos em Leipzig. Em 1910 – troca leipzig pela london School of Economics.

         Na London school of Economics ele trabalhou sob a orientação de Westermarck, Wundt e seus discípulos estavam interessadíssimos no material australiano – como muitos outros cientistas sociais desse tempo. Em 1912 e 1913, eram publicados importantes trabalhos sobre os aborígenes australianos, não só de Malinowski e Radcliffe-Brown, mas também de autoria de Durkheim e Freud. Na London S. of E.conomics, Malinowski encontrou-se com o desejo britânico de proporcionar apoio a mais trabalhos etnográficos.

             
          O Governo australiano deu uma verba para que ele pudesse realizar suas investigações.Duas bolsas-  Londres e L.E.E. Quando estava com 30 anos, pesquisa no sul da Nova Guiné. Em maio de 1915 – por acidente, fixou-se nas Ilhas Trobriand, ao largo da Nova Guiné. (...) ele inventou os métodos da moderna pesquisa de campo nos dois anos que passou nas Ilhas Trobriand, nos períodos de 1915-1916 e 1917-1918.

          Mlinowski escreveu sobre seus métodos de pesquisa de campo, mas a publicação póstuma de alguns de seus diários de campo forneceu uma idéia muito mais íntima de suas experiências nas Ilhas Trobriand do que as suas próprias dissertações sobre o método. Contudo, embora os diários revelem as tensões pessoais do trabalho de campo, também tornam a sua realização simultaneamente mais compreensível e mais admirável. Como disse Malinowski aos seus estudantes, considerou o diário pessoal do pesquisador de campo uma válvula de escape, um meio de canalizar as preocupações e emoções pessoais do etnógrafo para longe dos apontamentos estritamente científicos.

   
      TÉCNICA

1)   Havia a descrição geral de instituições, de costumes, que ele estudou mediante o que denominou “o método de documentação estatística por provas concretas”.  Compor cartas sinópticas, nas quais se registrava a gama de costumes associados a determinadas atividades. O pesquisador de campo deve também observar as realidades da ação social, aquilo a que Malinowski chamou os imponderáveis da vida cotidiana, registrando minuciosamente as suas observações num diário etnográfico especial.
           
         E finalmente, a compreensão da regra e da ação deve ser posta no contexto do modo característico de pensar da cultura, pois a meta final “que cumpre ao etnógrafo nunca perder de vista” é “apreender o ponto de vista do nativo, sua relação com a vida e perceber a visão que ele tem do seu mundo”.

          (...) Para além da preocupação de Malinowski com os métodos de campo havia, portanto, uma compreensão da complexidade da realidade social que quase correspondia a uma teoria.

           
          Casou-se com a filha de um professor australiano.   Em 1920 a 1922 – deu aulas na London School of Economics. 1927 – Malinowski – nomeado para a primeira cátedra de Antropologia da Universidade de Londres. Permaneceu até 1938, quando foi aos EUA. Morreu em New Haven, em 1942, aos 58 anos.       Teve 7 monografias publicadas entre 1922 e 1955.

           Malinowski tinha muitas das qualidades de um profeta, era um líder “carismático”,. Malinowski não tinha dúvidas acerca de sua própria grandeza; considerava-se um missionário, um inovador revolucionário no campo da metodologia e das idéias antropológicas. Proclamava-se o criador de uma disciplina acadêmica inteiramente nova.

          Nas primeiras páginas dos Argonautas escreveu: “A posição do etnógrafo moderno está em completo contraste com aquela famosa resposta dada há muito tempo por uma autoridade representativa que, indagada sobre quais eram as maneiras  e os costumes dos nativos, respondeu: “costumes, nenhum; maneiras, detestáveis”.

           A abordagem de Malinowski era relativista. Isso significa suspensão dos juízos etnocêntricos sobre as culturas de outros povos.

            Monografias:

            Cada uma das monografias de Malinowski sobre  Trobriand ocupa-se primordialmente de um único foco institucional: comércio, família, vida e procriação, mito, o respeito às normas, cultivo da terra.

            São três os temas centrais em todas as suas monografias. Em primeiro lugar, os aspectos da cultura não podem ser estudados isoladamente; devem ser entendidos no contexto de seu uso.

            Em segundo lugar, nunca podemos confiar nas regras ou na descrição de um informante a respeito da realidade social; as pessoas dizem sempre uma coisa e fazem outra.

            A noção de que as culturas constituíam um todo integrado, que não deveriam ser decompostos para fins de estudo comparativo, não era em si mesma um ponto de vista particularmente original, dado o seu íntimo parentesco com todas as anteriores concepções orgânicas de cultura e sociedade.

            A tese de Malinowski era que as culturas formam todos porque são unidades funcionais. Todo e qualquer costume existe para preencher um determinado propósito e , por conseguinte, todos os costumes possuem um significado vivo e corrente para os membros de uma sociedade. Eles são, em resumo, os meios que os homens usam para satisfazer suas necessidades e devem, portanto, permanecer unidos.

            Esse senso de cultura como um todo que abrangia um jogo de ferramentas levou-o a formular os seus outros axiomas.

            Resumindo a perspectiva de Malinowski dependia (como todas as teorias sociológicas) de uma concepção de homem – representado em sua obra pelo arquétipo, homem trobriandês – e, no ponto de vista de Malinowski, o homem era realista, prático, razoável, um tanto falho de imaginação, talvez, mas capaz de discernir seus verdadeiros interesses a longo prazo.


DIFUSIONISMO e FUNCIONALISMO.

         Análise sincrônica passou a denominar-se funcionalista. O enfoque funcionalista não era visto como algo que desalojaria as preocupações evolucionistas e difusionistas mas, outrossim, como algo que deveria ser-lhes adicionado.
O  difusionismo recebeu um grande impulso na Grã-Bretanha.
      A  Teoria difusionista tende no início do século, a ocupar o lugar do evolucionismo, e postula a existência de empréstimos.
 Malinowski considera que uma sociedade deve ser estudada enquanto uma totalidade, tal como funciona no momento mesmo onde a observamos. Frazer foi o mestre de Malinowski. Quando perguntávamos ao primeiro por que ele próprio não ia observar as sociedades a partir das quais tinha construído sua obra respondia: “Deus me livre!”  Os argonautas do pacífico Ocidental, embora tenha sido editado alguns anos apenas após o fim da publicação de O ramo de ouro, com um prefácio, do próprio frazer, adota uma abordagem rigorosamente inversa: analisar de uma forma intensiva e contínua uma microssociedade sem referir-se a sua história. Enquanto Frazer procurava responder à pergunta: “como nossa sociedade chegou a se tornar o que é? ; e respondia escrevendo essa “obra épica da humanidade” que é O Ramo de Ouro, Malinowski se pergunta o que é uma sociedade dada em si mesma e o que a torna viável para os que a ela pertencem, observando-a no presente através da interação dos aspectos que a constituem.

          Com Malinowski, a antropologia se torna uma “ciência” da alteridade que vira as costas ao empreendimento evolucionista da reconstituição das origens da civilização, e se dedica ao estudo das lógicas particulares características de cada cultura. O que o leitor aprende ao ler Os argonautas é que os costumes dos Trobriandeses, tão profundamente diferentes dos nossos, têm uma significação e uma coerência. Não são puerilidades que testemunham de alguns vestígios da humanidade, e sim sistemas lógicos perfeitamente elaborados. Hoje, todos os etnólogos estão convencidos de que as sociedades diferentes da nossa são sociedades humanas tanto quanto a nossa, que os homens e mulheres que nelas vivem são adultos que se comportam diferentemente de nós, e não “primitivos”, autômatos atrasados (em todos os sentidos do termo) que pararam uma época distante e vivem presos a tradições estúpidas. Mas nos anos 20 isso era revolucionário.

             Com o objetivo de pensar essa coerência interna, Malinowski elabora uma teoria (o funcionalismo) que tira seu modelo das ciências da natureza: o indivíduo sente um certo número de necessidades, e cada cultura tem precisamente como função a de satisfazer à sua maneira essas necessidades fundamentais. Cada uma realiza isso elaborando instituições (econômicas, políticas, jurídicas, educativas...), fornecendo respostas coletivas organizadas, que constituem, cada uma a seu modo, soluções originais que permitem atender a essas necessidades.

              Outra característica do pensamento de Malinowski foi a preocupação em abrir as fronteiras disciplinares, devendo o homem ser estudado através da tripla articulação do social, do psicológico e do biológico. Convém em primeiro lugar, para Malinowski, localizar a relação estreita do social e do biológico; o que decorre do ponto de vista anterior, já que, para ele, uma sociedade funcionando como um organismo, as relações biológicas devem ser consideradas não apenas como o modelo epistemológico que permite pensar as relações sociais, e sim como o seu próprio fundamento. Além disso, uma verdadeira ciência da sociedade implica, ou melhor, inclui o estudo das motivações psicológicas, dos comportamentos, o estudo dos sonhos e dos desejos do indivíduo. E Malinowski, quanto a esse aspecto vai muito além da análise da afetividade de seus interlocutores. Ele procura reviver nele próprio os sentimentos dos outros, fazendo da observação participante uma participação psicológica do pesquisador, que deve “compreender e compartilhar os sentimentos” destes últimos “interiorizando suas  reaçõnteriorizando suas reaçar os sentimentos"da obs radicalmente, como veremos, de Durkheim), vai muito al, soluçes  emotivas”.

1)      o único modo de conhecimento em profundidade dos outros é a participação a sua existência, ele inventa literalmente e é o primeiro a pôr em prática a observação participante, dando-nos o exemplo do que deve ser o estudo intensivo de uma sociedade que nos é estranha. O fato de efetuar uma estadia de longa duração impregnando-se da mentalidade de seus hóspedes e esforçando-se para pensar em sua própria língua pode parecer banal hoje. Não o era durante os anos 1914-1920 na Inglaterra e muito menos na França. Malinowski nos ensinou a olhar. Deu-nos o exemplo daquilo que devia ser uma pesquisa de campo, que não tem mais nada a ver com a atividade do “investigador” questionando “informadores”.

     Em  síntese: a experiência desses pioneiros mais a reflexão teórica de Durkheim, formou uma nova geração de antropólogos, que transformou profundamente a antropologia – Malinowski é uma das figuras centrais dessa geração.

O Casaco de Marx

   O capital assume a forma de casaco. O casaco não como uma mercadoria que é trocada. E o que define o casaco como uma mercadoria para Marx é que, como tal, ele não pode ser vestido como tampouco pode aquecer. A mercadoria se alimenta de trabalho humano. O caráter contraditório do próprio capitalismo: a sociedade mais abstrata que jamais existiu; uma sociedade que consome, cada vez mais, corpos humanos concretos.
   A mercadoria torna-se uma mercadoria não como uma coisa, mas como um valor de troca.
  • Feitiche: Tudo aquilo a que se atribui poder sobrenatural a feitiço.
  • Feitichismo: Adoração de Feitiches/ Amor, não à pessoa, mas a um objeto de uso dessa pessoa.
   O casaco de Marx aparece apenas para imediatamente desaparecer outra vez, porque a natureza do capitalismo consiste em produzir um casaco não como uma particularidade material, mas como um valor suprasensível.
   Ele tinha usos bem específicos: conservar Marx aquecido no inverno; distingui-lo como um cidadão decente que pudesse entrar no salão de leitura do Museu Britânico. Mas o casaco, qualquer casaco, visto como um valor de troca, é esvaziado de qualquer função útil. 
   Para Marx, o feitichismo não é o problema; o problema é o feitichismo das mercadorias, que é o ato de exploração, que emerge das relações comerciais dos portugueses da África Ocidental nos séculos XVI e XVII.
   Os empreendedores europeus, ao menos após os primeiros estágios comerciais, não feitichizavam objetos; pelo contrário eles estavam interessados em objetos apenas na medida em que eles pudessem ser transformados em mercadorias e trocados para obtenção de lucro no mercado.
   O verdadeiro valor ( isto é, de mercado) do objeto como mercadoria, se fixava, em vez disso, nos valores transcedentais que transformavam o ouro em navio, os navios em armas, as armas em tabaco, o tabaco em açúcar, o açúcar em ouro, e tudo isso num lucro que podia ser contabilizado. O que era demonizado no conceito de feitiche era a possibilidade de que a história, a memória e o desejo pudessem ser materializados em objetos que fossem tocados e amados e carregados no corpo.
   A situação financeira tinha se tornado tão desesperadora que ela tinha não apenas perdido o crédito com o açougueiro e o verdureiro, mas tinha sido obrigado a penhorar o seu casaco de inverno.
   As roupas que Marx vestia determinavam assim o que ele escrevia. Existe aqui, um nível vulgar de determinação material que é difícil até de considerar, embora as considerações materiais vulgares fossem precisamente aquilo que Marx estava discutindo: um casaco como uma mercadoria, no interior do mercado capitalista.
   Marx tinha uma vida em débitos com os padeiros, verdureiros e açougueiros, ou pela penhora de algumas compras anteriores feitas, como em qualquer lar de classe trabalhadora.
   A vida doméstica de Marx dependia, pois, dos “minúsculos cálculos” que caracterizavam a vida da classe operária.
   As roupas escreveu Engels, eram as marcas visíveis da classe: as roupas dos operários estão numa condição muito ruim.
   O fustão era uma roupa grosseira, feita de sarja levemente flanelada. A sua cor era, em geral, de um oliva ou chumbo ou outra cor escura.
   Por muito pouco heróica que seja a sociedade burguesa, em seus primeiros e revolucionários momentos ela se veste com a roupagem do passado de forma a se imaginar a si própria em termos da grande tragédia histórica.
   Uma análise do funcionamento sistemático do capitalismo, ele próprio dependia, principalmente, de práticas pré-capitalistas ou marginalidade capitalistas: pequenas heranças; doações; a escrita de livros que frequentemente tinham que ser subsidiados.
   O padrão usual do comercio de penhores, como tão bem demonstrou Melanie Tebbutt, consistia em que os salários recebidos na sexta ou no sábado eram usados para recuperar as melhores roupas da loja de penhores.
   Pelos quinze shilings que ele obtinha em troca de seus penhores ele tinha que pagar oito pence por semana ( um juro de cerca de 4,5% à semana, 19% ao mês e 23,5% ao ano). Para os Marx, a penhora de suas roupas delimitava suas possibilidades sociais.
   O dono da loja de penhores não iria pagar por memórias pessoais ou de família
   As memórias estavam, assim, inscritas, para os pobres, em objetos que eram assombrados pela perda. Pois os objetos estavam num estado constante de estarem prestes a desaparecer. O Cálculo das prováveis futuras jornadas das roupas e de outros objetos até a loja de penhores estava inscrito na sua compra .
   De forma violenta, numa experiência de gênero, ao associar a troca de mercadoria com o fato de ser mulher, pois as mulheres são descritas como prestes a se tornarem mercadorias, isto já é previsto no fato de que elas partem com suas lembranças materiais, “sem nenhuma luta”, assim como as penhoras transformadas em mercadorias, “vão sem nenhuma luta”! .
   Em 1884, um único dono de loja de penhores de Suderland recebeu, como penhores, mil e quinhentos anéis de noivado e três mil relógios, um sinal evidente da situação desesperadora causada pela depressão econômica.
   Essa tenção endêmica entre, de um lado, formas de lembrança e auto-constituição e, de outro, formas de troca de mercadorias é tratada, por Dickens, em “A loja de penhores”, apenas em termos de corrupção femenina. (...) “uma mulher jovem, cujas roupas, miseravelmente pobres mas extremamente vistosas, lamentavelmente frias mas extravagantemente elegantes, claramente denunciam  sua classe” e, no outro, uma mulher que é  “a mais baixa das baixas; suja, desabotoada, desalinhada e desleixada”.Dickens desloca para as mulheres a relação entre a particularidade do objeto-como-memória e a generalidade do objeto-como-mercadoria, o primeiro aparecendo como amor verdadeiro, o último como prostituição. (...)  penhoradas – roupas e bens domésticos – e também sobre o fato de que a penhora era frequentemente um palco da preparação de comida.  (pág. 69).
   Embora ele fosse um mágico, Hans nunca conseguia cumprir suas obrigações seja para com o demônio seja para com o açougueiro, e era portanto – muito contra a sua vontade – constantemente obrigado a vender seus brinquedos para o diabo
   O momento da venda é o momento de alienação, o momento em que os brinquedos perdem sua mágica, na medida em que eles são transformados em valores de troca.
   A perda, naturalmente, não era a dele próprio; era a perda de toda a classe operária, alienada dos meios de produção. Aquela alienação significava que eles, os produtores da maior multiplicidade de coisas que o mundo tinha conhecido, estavam para sempre situados no exterior daquela plenitude material, seus rostos espiando através das vitrines da loja os brinquedos que eles tinham feito, mas que eram, agora, “propriedade privada”. A propriedade privada da burguesia era comprada ao preço da desapropriação da classe operária relativamente às coisas deste mundo. Na medida em que eles tinham posses, eles a tinham de forma precária.
   Para Marx, a loja de penhores não podia ser o ponto de partida para uma análise da relação entre o objeto e a mercadoria. Existem, penso, duas razões para isto. A  primeira é que o dono da loja de penhores é, da perspectiva de Marx, um agente do consumo e da recirculação de bens e não da sua produção. A segunda é que, embora na loja de penhores vejamos a transformação particular é uma característica tanto das formações pré-capitalistas quanto das capitalistas. Não existe nada de especificamente novo sobre o valor de troca ou, mesmo sobre donos de lojas de penhores.
   O trabalho humano que foi apropriado na sua fabricação, o trabalho que produziu o tecido das camisas e das saias e das roupas de cama em folhas de papel.
   Em O Capital, Marx escreveu sobre o casaco visto como uma mercadoria – como a forma celular abstrata do capitalismo. Ele traçou o valor daquela forma celular a ser apropriada pelo corpo do trabalho alienado (...). Estar sem dinheiro significava ser forçado a desnudar o corpo. Ter dinheiro significava tornar a vestir o corpo. (pág. 78)
   Qual é a criatura que caminha com quatro pés pela manhã, dois ao meio-dia e três à noite? O Enigma da Esfinge é o ser humano! . A Esfinge nos faz ver a singularidade do caminhar.
   A Esfinge era um monstro com rosto de mulher, pés e cauda de leão, e asas de pássaro. É  a descrição de um ser que está, ao mesmo tempo, mais ou menos preso ao chão do que os humanos: mais, porque anda sobre quatro pés; menos, porque as asas indicam que pode voar.
   O enigma de uma criatura que anda sobre dois pés é, pois, resolvido por um homem que tem dificuldades em andar sobre dois pés.
   O enigma da Esfinge simplifica a dificuldade do caminhar. Quando caminhamos, somos como ciclistas.
   Talvez o caminhar se faça sempre sobre três pés – mais a maioria de nós internalizou tão bem o terceiro pé que não estamos mais conscientes dele.
   O enigma da Esfinge nos faz lembrar que um dos aspectos centrais do ser humano é a possibilidade de caminhar.
   O mistério do caminhar é o mistério de um “animal bifurcado” que consegue ficar em pé (quando consegue) apenas pelo sentido incorporado de equilíbrio que a mão de um outro lhe deu.